TEM MENINO DE MIRITI








Domingo, dia do Círio de Nossa Senhora de Nazaré em Belém do Pará. Cinco horas da manhã, os olhos acesos do menino esperam o momento de pular da cama.
Momento de gastar o pouco dinheiro que ganhou na venda das pinturas que fazia em guache e vendia para seu pai. Tinha que comprar, no mínimo, dois barquinhos de mirití para poder depois transformar em um grande com mais de dois andares.
Levantou as seis, tomou um banho respingado e já saiu correndo para encontrar com as girândolas coloridas que se abaixavam para os olhos do menino poder escolher melhor. Voltou feliz com dois barquinhos, que para ele, eram os mais bonitos de todos.
Contava as horas para a Santa passar e depois do almoço, quando tudo se acalmasse, sozinho sentado no chão, pudesse puxar tala por tala e desmontar, peças por peças para construir um novo barco mais bonito ainda. O seu barco de mirití.

Mirití. Brinquedo. Brinquedo de Mirití. Estas duas palavras se juntaram para fortalecer a cultura paraense de uma forma bastante expressiva. No entrelaço da historia essas palavras se encontraram no século XVIII por ocasião do primeiro Círio de Nazaré, no ano de 1793 e até hoje se fez uma parceria inseparável incorporada na festa católica. Surgiu como objeto de promessas por graças alcançadas e chegou até hoje como símbolo lúdico desta manifestação.
Flutuante pela procissão, as girândolas com seus brinquedos observam e acompanham Nossa Senhora por todo o seu percurso. Colorindo o cortejo, guardam nas suas formas marcas de uma memória popular ribeirinha. Barcos, cobras, tatus, jacarés, soca-socas e galinhas povoam o universo fantástico do imaginário paraense na sua manifestação mais cotidiana.
Comprar ou ganhar um Brinquedo de Mirití é um momento mágico que “...só quem tem olhos de criança, tem o sol por brilhante...”
Aníbal Pacha

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